Invista Informa:
Axé!
Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a nos contar.
Lembra do tempo em que as estrelas coroavam o nosso pensamento e, com ele, começavam a brilhar.
Nossos ancestrais
conviviam em harmonia com a natureza e a sabedoria dos animais.
Construíram uma gigantesca família, se espalharam pelo mundo e, por onde
passavam, abriam novos caminhos para semear o amor e a paz.
Naquele tempo, não
havia longe, nem perto; nem errado, nem certo; e reinava uma exuberante
floresta onde, hoje, padece o maior de todos os desertos.
Caminhando pela
savana, reunidos em torno da fogueira, celebrávamos a chegada e a
partida, como se o direito de ir e vir fosse uma certeza prometida.
Baobá, árvore
querida... Aprendemos a cantar, o segredo da rima, rimando a pureza das
palavras com a beleza da melodia: alegria com nobreza, mistérios com
fantasia.
Baobá, árvore
querida... Conduz nosso canto até onde moram os deuses do infinito. E
que eles cubram com o manto da noite o ventre de Mãe África, onde dormem
as matrizes da vida.
África, Triângulo Sagrado, banhado por um oceano de cada lado.
Ao Norte, o próspero Mediterrâneo; a Leste, o reluzente Índico; a oeste, o tenebroso Atlântico.
Ao Norte, entre o mar e
o Saara, brotaram as suas primeiras civilizações, verdadeiras
joias-raras: o esplendor do Egito, o empreendedor Cartago e o Marrocos
de Alah.
A Leste, velas
tremulavam, salpicando o mar. Traziam sedas da China, tapetes da Pérsia e
temperos da Índia. Do Reino do Sudão levavam o ouro e outros metais
preciosos.
Entre os paralelos do
Equador, existe uma majestosa floresta, onde o homem não se cansa de
tirar, nem os deuses se cansam de repor.
Além de árvores,
plantas e espécies fantásticas, existem rios e cachoeiras que os nossos
olhos são poucos para admirar. Não existe na Terra, tamanha diversidade,
incrível quantidade de vegetais e animais - embora, não faça muito
tempo, houvesse muito mais.
São Zulus, Massais, Bantos, Mossis, Bokongos e Hauçás clamando por liberdade e paz!
Os mistérios da
Natureza vão além da compreensão. Explode o raio, grita o trovão, a
cheia inunda o vale, a terra vomita fogo pela boca do vulcão. A
cachoeira chora, a lua cheia anuncia que algo acontecerá antes do raiar
do dia. Ao som de tambores, lendas, mistérios, curas e magia constroem
mitos e aventuras, cultos e culturas. Essa é a nossa liturgia.
Vivemos numa terra de
contrastes permanentes. O mais velho dos continentes possui a população
mais jovem do planeta - com sonhos ainda latentes.
Também pudera... Nenhum outro continente sofreu tantas transformações, tantas violações, em tão pouco tempo!
Nossos guerreiros
não conseguiram impedir a marcha do invasor. Suas preces foram sufocadas
pelos canhões. Perdemos nossos bens, muitas vidas, dialetos e nações. O
pranto foi pouco para tanta dor...
Fomos submetidos aos
mais diferentes tipos de colonialismo. Aprendemos as mais contundentes
formas de respeitar o "senhor". A pior delas foi o racismo - linha reta
entre quem manda e é mandado.
Nos impuseram uma
nova etnia, religiões, obrigações, devoções e economia. Fomos
escravizados à tecnologia, em nome de um mundo "civilizado".
Pelas janelas do Atlântico, nossos olhos
ainda choram amargas lembranças, vendo nossos irmãos partirem para
terras desconhecidas. Não houve despedida, nenhuma notícia, nenhuma
esperança.
Uma delas fica do
outro lado do oceano e se chama Brasil. É uma terra muito parecida com a
nossa: tem florestas, praias, muitos rios, clima quente, clima frio,
gente que ginga, brinca e que também faz festa na roça.
Irmãos do Congo, Angola, Daomé, Gaô e Jané
foram levados para lá. Carregaram na lembrança nossos deuses, nossas
danças, nossa música, bebidas e comilanças, misturando nosso sangue ao
brasileiro. É por isso que eles são tão festeiros.
Não fazem uma roda sem
que haja um tambor, berimbau, reco-reco e agogô. Cantam em iorubá,
rimam em nagô e começam a sambar. O que era uma roda vira festa,
colorindo o país de Norte a Sul. Vem maracatu... boi-bumbá, congada,
capoeira, reisado, umbigada, é jongo a noite inteira.
Como num rap, ou num partido-alto, criam vários sentidos com a magia das palavras...
Acarajé, quibebe, munguzá,
Caruru, abrazô, vatapá...
Caruru, abrazô, vatapá...
"Gererê, sarará, cururu
Olerê! Balá-blá-blá, bafafá, sururu. Olará!"
Olerê! Balá-blá-blá, bafafá, sururu. Olará!"
E vejam só que
interessante... Depois das lágrimas de uma chegada angustiante, nasceram
festas e folias que alegram o povo até os nossos dias.
Nossos irmãos
rezavam para os deuses que não eram seus. Cantavam músicas que não eram
suas. E fechavam as procissões que se arrastavam pelas ruas.
Foi assim que
aprenderam a desfilar. Nasceram irmandades de bambas, organizadas como
verdadeiras Escolas de Samba! Que, aliás, são Escolas de Cultura e Arte
Africanas!
Nelas se aprende as
coisas mais elementares da vida: Por exemplo... uma banana, subvertida
como símbolo de racismo, na verdade é o africanismo mais popular do
Brasil... E se não devemos dar asas para o mal, podemos transformá-lo
numa brincadeira de carnaval. Que tal?
Cantemos a
LIBERDADE! E para que ela abrisse as asas sobre nós, tivemos que ser
fortes de verdade. Aprendemos com Zumbi, com os Malês, Manoel Congo,
João Cândido e outros irmãos que já não estão aqui. Mas deixaram um
caminho a seguir.
Aprendi que a vida é
um permanente ritual de liberdade. Lutando por justiça, movimentos se
espalharam pelo mundo inteiro. Estão documentados nos livros, no cinema,
no teatro, na música, nas artes plásticas, nos grafites, por toda
parte. Foi por ela que dediquei toda a minha existência. E faria tudo
novamente.
Para que esta
mensagem fosse tão transparente como as nossas águas, buscamos um
caminho sem mágoas, procurando sempre a simplicidade. É como a África,
mãe de tantas diversidades, lutando sempre por justiça. Foi a forma que
encontramos para mostrar a verdade.
Precisamos semear nos livros, nas escolas, nas mentes e nos corações.
Precisamos
reconstruir o continente africano e a mentalidade de muitos. Precisamos
escrever uma nova História de Vida, pontuada de ações humanas, fraternas
e solidárias!
Precisamos despertar
em nossos irmãos, o mais difícil de todos os desejos: o de aprender a
amar. Para que, então, a voz da igualdade seja sempre a nossa voz.
Este será o nosso maior desafio.
Axé, Nkenda!
Nelson Mandela
Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo
GLOSSÁRIO
NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana falada no Noroeste de Angola.
BAOBÁ
(Andansonia digitata) - Também chamado de embondeiro. Árvore que pode
atingir 25 m de altura e 7 m de diâmetro. É a árvore nacional de
Madagascar, emblema do Senegal e considerada sagrada em todo o
continente africano.
ZULUS, MASSAIS, BANTOS, MOSSIS, BOKONGOS e HAUÇÁS - Algumas das mais tradicionais etnias africanas.
Acarajé, quibebe, munguzá, caruru, abrazô, vatapá - Comidas e iguarias da culinária africana.
"Gererê,
sarará, cururu/ Olerê!/ Balá-blá-blá, bafafá, sururu/ Olará!" - trecho
da letra de "Querelas do Brasil", música de Maurício Tapajós e Aldir
Blanc, gravada por Elis Regina.
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Pesquisa e Texto: Marta Queiroz e Cláudio Vieira
Enredo
MARQUINHO LESSA, ZÉ KATIMBA, ADRIANO GANSO, JORGE DO FINGE E ALDIR SENNA
FOI UM GRITO QUE ECOOU, "AXÉ-NKENDA"!
A LUZ DENTRO DE VOCÊ... ACENDA!
NADA É MAIOR QUE O AMOR, ENTENDA
A VOZ DO VENTO VEM PRA NOS CONTAR
QUE NA MÃE ÁFRICA NASCEU A VIDA
PURA MAGIA, "BAOBÁ" ABENÇOADO...
TANTA RIQUEZA NO TRIÂNGULO SAGRADO...
MISTÉRIOS! GRANDEZA!
O HOMEM EM COMUNHÃO COM A NATUREZA!
TRISTEZA E DOR,
NA VIOLÊNCIA PELAS MÃOS DO INVASOR
E O MAR LEVOU..
NOSSA CULTURA UM NOVO MUNDO ENCONTROU
A LUZ DENTRO DE VOCÊ... ACENDA!
NADA É MAIOR QUE O AMOR, ENTENDA
A VOZ DO VENTO VEM PRA NOS CONTAR
QUE NA MÃE ÁFRICA NASCEU A VIDA
PURA MAGIA, "BAOBÁ" ABENÇOADO...
TANTA RIQUEZA NO TRIÂNGULO SAGRADO...
MISTÉRIOS! GRANDEZA!
O HOMEM EM COMUNHÃO COM A NATUREZA!
TRISTEZA E DOR,
NA VIOLÊNCIA PELAS MÃOS DO INVASOR
E O MAR LEVOU..
NOSSA CULTURA UM NOVO MUNDO ENCONTROU
PÕE PIMENTA PRA ARDER, ARDER, ARDER!
SENTE O GOSTO DO DENDÊ, O IAIÁ, OYÁ
TEM ACARAJÉ NO CANJERÊ,
TEM CARURU E VATAPÁ (É DIVINO O PALADAR) CAPOEIRA VAI FERVER! VEM VER! VEM VER!
ABRE A RODA QUE IOIÔ QUER DANÇAR.. SAMBAR..
TRAZ MARACATU, MACULELÊ..
É FESTA ATÉ O SOL RAIAR
SENTE O GOSTO DO DENDÊ, O IAIÁ, OYÁ
TEM ACARAJÉ NO CANJERÊ,
TEM CARURU E VATAPÁ (É DIVINO O PALADAR) CAPOEIRA VAI FERVER! VEM VER! VEM VER!
ABRE A RODA QUE IOIÔ QUER DANÇAR.. SAMBAR..
TRAZ MARACATU, MACULELÊ..
É FESTA ATÉ O SOL RAIAR
LIBERDADE!
SAGRADA BUSCA POR JUSTIÇA E IGUALDADE
E COM ARTE EU SEMEIO A VERDADE
O DESPERTAR PARA UM NOVO AMANHECER
FAÇO BROTAR A FORÇA DA ESPERANÇA
DEIXO DE HERANÇA UM NOVO JEITO DE VIVER!
VAMOS LOUVAR O CANTO DA MASSA
UNINDO AS RAÇAS PELO RESPEITO
VAMOS À LUTA PELOS DIREITOS
UMA "BANANA" PARA O PRECONCEITO
SAGRADA BUSCA POR JUSTIÇA E IGUALDADE
E COM ARTE EU SEMEIO A VERDADE
O DESPERTAR PARA UM NOVO AMANHECER
FAÇO BROTAR A FORÇA DA ESPERANÇA
DEIXO DE HERANÇA UM NOVO JEITO DE VIVER!
VAMOS LOUVAR O CANTO DA MASSA
UNINDO AS RAÇAS PELO RESPEITO
VAMOS À LUTA PELOS DIREITOS
UMA "BANANA" PARA O PRECONCEITO
"MANDELA"! "MANDELA"!
NUM RITUAL DE LIBERDADE
LÁ VEM A IMPERATRIZ! EU VOU COM ELA
EU SOU "MADIBA"! SOU A VOZ DA IGUALDADE
NUM RITUAL DE LIBERDADE
LÁ VEM A IMPERATRIZ! EU VOU COM ELA
EU SOU "MADIBA"! SOU A VOZ DA IGUALDADE
Vídeo do samba campeão
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